Trago um breve relato sobre nossa passagem pelo 18º Janeiro de Grandes Espetáculos. No começo éramos apenas homens em direção ao Recife, desembarcamos na quarta-feira para a QualQuer Um dos 2 cia. de dança apresentar o espetáculo Aluga-se Um Coração na Quinta, dia 19, no Teatro Barreto Júnior.
R&J de Shakespeare – Juventude interrompida, essa foi a peça que resolvemos assistir no Teatro Santa Isabel, vi ali um homem ser Julieta sem necessitar travestisse, também outro a ama, mas o que nisso tudo mais me agrada, são as discussões embutidas que não necessitam estar tão didáticas para acontecer.
No ensaio do espetáculo no teatro, na quinta, o release na agenda cultural nos chama atenção, questionamos Jailson que disse que já havia mandado corrigir, mas haviam enviado para a Agenda do Recife. Logo, logo, notasse certa agitação no facebook, tudo por conta do mesmo release, agora utilizado como crítica ao posicionamento do grupo.
É impossível não perceber um forte teor homoerótico no espetáculo de dança contemporânea ALUGA-SE UM CORAÇÃO [...] Mesmo que este homoerotismo não seja totalmente assumido pelo coreógrafo e diretor, a montagem é interpretada apenas por um elenco masculino e trata do (des)amor. A criação coreográfica investiga de que forma as relações afetivas se constroem na contemporaneidade e como as mesmas são interferidas por sensações de fluidez e vazio, estando sujeitas à temporalidade e situações de consumo. [...] (Facebook de Leidson Ferraz)
E abaixo deste, muitos comentários foram surgindo. Palavras de artista que não agüentam mais ver essas coisas acontecerem ou de pessoas que acreditam que em sua página da internet pode postar o que bem entender e quiser, nesse caso apoio, mas pense sobre quem escrever. Não daria credibilidade a um jornalista que se diz artista e que assiste a um espetáculo por mídia de DVD, depois resume o trabalho a uma visão medíocre.
Sabe-se que a arte de interpretar para os palcos é efêmera e que só acontece de um jeito uma única vez, como a batida história do raio que nunca irá cair no mesmo local. A magia de sentir-se fora do local, só acontece ali, ao vivo, mas se formos recheados de pensamentos errados, nada nos fará compreender por outro lado. Nisso está o problema de um jornalista que refaz o release dos espetáculos, ele não tem o direito de tomar a palavra do grupo para si, release não é texto crítico. Outro ponto que acho que interferiu nesse ponto de vista foi a questão da mochila pessoal que levamos adiante, se vemos um espetáculo, vamos naturalmente relacionarmos com ele e entende-lo por meio de nossa realidade.
Mas isso foi uma turbulência num vôo que decolou muito bem, parabéns aos meninos que mostraram diversas faces naquele palco, alugando tais corações que nunca deveriam ser vistos de forma homogenia.
Independente do gênero. Falando de amor, encontros, desencontros. Os reais sentimentos profundos e os rasos que perpassam nas relações. Vi homens, mulheres, pessoas. Independente do sexo. O espetáculo é muito maior.Independente do gênero. Falando de amor, encontros, desencontros. Os reais sentimentos profundos e os rasos que perpassam nas relações. Vi homens, mulheres, pessoas. Independente do sexo. O espetáculo é muito maior. (Bella Maia)
Fui sexta dar uma volta no Recife antigo, na livraria, tomar um café e aproveitar para conhecer o local do Coletivo Lugar Comum, fomos recebidos muito bem por Maria e Renata que dividiram biscoitos e sorrisos conosco. À noite voltamos ao Teatro Santa Isabel, dessa vez para assistir As Levianas em Cabaré Vaudeville, com detalhes minuciosos na cenografia e estética, continuo a ver as mesmas personagens em diversas situações, o que realmente me agrada, mais uma vez saiu contente, levando na mente a imagem de uma palhaça alcoólatra com sua caneta e uma garrafa gigante.
No sábado chegava o momento do Eu Vim da Ilha entrar no terreiro, e nada de São Pedro dar uma trégua, dentro da tenda a coisa já tinha esquentado, até o fotografo foi convocado para a farinhada e lá fora pinga-pinga.
Quando a chuva deu uma aliviada, entramos com aquele cortejo, mas só foi pisar o pé no tapete, para a chuva começar a bater na porta. Ela não teve escolha, teve muito samba. O espetáculo continuou, na chuva a platéia não quis sambar, mas as agitações nas cadeiras valiam pelo samba. E a barca lotou nessa viagem daquele lugar tão complicado de chegar, foi tanta ladeira, para chegar à nossa Ilha ou na Ilha que naquele momento passou a ser do público.
Na volta no domingo, mesmo com mais chuva, estávamos bem acompanhados de amigos. Levando junto imagens e pensamentos de uma viajem. Um boi preto, um bolo de chocolate, um guarda desprezível, uma currinha, um choro apertado, um telefone dado pelo cupido, bolinhas de pula-pula ou de mascar, palavras rasgadas e pingos de chuva.
Adriano Alves
23/01/2012
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